Elpídio Malaquias

O “enventor” da arte

O Museu de Arte do Espírito Dionísio Del Santo possui mais de 400 obras do artista Elpídio Malaquias em sua coleção. Essas obras em papel, tela e cano pvc apresentam um panorama de sua produção e as temáticas deste “enventor da arte”, como tinha o hábito de se denominar. Costumava dizer que: ‘’tudo que faço é inventado. Eu nunca estudei, tudo sai de dentro da minha memória, bichos, flores estão sempre presentes. É invenção minha mesmo.’’

Uma das características mais marcantes da obra de Malaquias é sua variedade temática. A tradição religiosa se mistura ao cotidiano dos bichos. A vida na cidade grande e seus habitantes, são grafados em desenho tosco, semelhante ao desenho de cordel, um reflexo sertanejo do seu passado.

Curso de História Arte: Elpídio Malaquias, o inventor da arte

Muitas das pinturas de Elpídio Malaquias (1919-1999) iniciadas nos anos 70, são resultantes dos desenhos. Autodidata, Malaquias desenhava desde a época em que morava na roça, riscando na areia com galinhos de café. Nascido no município de Cariacica, Malaquias cresceu na fazenda. Neste ambiente surgiram elementos importantes para a leitura da sua obra. A figura do pavão, ou melhor do pavãozinho, retrata a sua admiração pela beleza da ave que saía da mata e vinha cantar na madrugada. Ele chegou a se intitular ‘’o rei do pavãozinho’’.

Seu desenho, embora anatomicamente incorreto, e suas composições extremamente simples se tornam magicamente expressivos nos quadros. A natureza da sua criação é melhor compreendida através dos sentimentos, e não apenas da razão. Elaborados com simplicidade, seus desenhos e pinturas são espontâneos, rústicos, ricas fantasias. Sem conhecer o ofício de pintor, Malaquias reproduziu imagens de cenas vividas. Pássaros vistos no interior onde viveu, casos que escutou, pintou por sua conta.

Malaquias dizia que escrevia nos trabalhos para completar a obra. Um recurso, espécie de homenagem às letras, de quem resolveu por conta própria, aos dezoito anos, aprender a assinar seu nome. Como não podia comprar ‘’papel branquinho’’ ou cadernos novos, catava papel na rua. Encontrado num canto, saía escrevendo ‘’a sua caligrafia, do seu pulso’’. Em suas últimas pinturas, as figuras ocupam toda a tela. Sem escritos, são assinadas apenas com as iniciais E.M.S. São só três letras, pois segundo o artista, isto deixava o quadro mais bonito, mais limpo.

NESTA CURADORIA

Texto produzido com citações do catálogo, ‘’Elpídio Malaquias da Silva. Diários. Impressões de uma obra. Vitória: s/d” de Betina Gatti.

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